Correios de Portugal, precisa-se de um selo
“O homem vive num estado de solidariedade natural e necessária com todos os homens. É condição da vida”.
(Léon Bourgeois)
Qualquer dicionário que consultemos definirá solidariedade com qualquer conceito que não se oporá à frase em subtítulo. O dicionário dir-nos-á que a solidariedade é um sentimento de partilha do sofrimento alheio; um sentimento que nos leva a prestar auxilio a alguém que precisa de nós; que é uma relação de fraternidade, de camaradagem, de auxílio mútuo que existe entre diversos membros de uma sociedade.
Em todas as sociedades, qualquer que seja o seu grau de avanço intelectual ou cientifico, há sempre quem precise e quem possa dar.
Dar, não dá qualquer um. Dar é um DOM, é uma qualidade que é inata ao Homem, nasceu com ele, e que é preciso cultivar, mas que muitos teimam em a ocultar.
Estes não podem dar; não estão preparados para tal. Estão sempre disponíveis para receber, melhor ainda estão sempre disponíveis para pedir.
Nalguns grupos étnicos do Povo Banto, que ocupa grande parte de África, o conceito de dar tem um significado, uma simbologia, diferente daquela a que estamos habituados. É a pessoa que dá que agradece à que recebeu. Agradece-lhe a disponibilidade que o outro teve para receber o que lhe ofertou.
Esta disponibilidade mental para dar e agradecer, ao outro por aceitar a dádiva que lhe quisemos fazer, é infelizmente estranha na nossa cultura dita “civilizada”.
Vêm estas considerações a propósito da ausência na filatelia portuguesa de selos que chamem a atenção da população para as necessidades, sempre crescentes, de sangue com que se debatem os hospitais.
O selo de correio é um extraordinário instrumento, que transporta consigo uma mensagem que chega “aos quatro cantos do mundo”. Seria óptimo que ele também fosse usado em Portugal, para a sensibilização da população para a dádiva de sangue.
Tal como o Povo Banto quando dá um bem, agradece ao que recebeu, os Correios estariam a ter uma atitude semelhante se no plano filatélico incluíssem uma série alusiva à dádiva de sangue. Com isto prestariam a si próprios e à comunidade um bom serviço.
Quase todos os países da Europa, com os quais temos muitas afinidades, já fizeram emissões de selos desta temática. A França já emitiu três. Veja-se o seguinte:
Por cada mil habitantes na Alemanha, 62,04 dão sangue. Na Finlândia 61,55. Na Bélgica 49,18. Na Inglaterra 46,41. Na Espanha 38,35. Na França 35,90. Na Itália 34,32. Em Portugal 30,93. Todos estes países à excepção de Portugal já emitiram selos de apelo à dádiva.
Curiosamente em Macau, em 1988, portanto ainda sob administração portuguesa, os correios locais emitiram uma série de três selos comemorando os quarenta anos da organização Mundial de Saúde.
Um dos selos mostra-nos um dador efectuando uma dádiva. Sobre este selo, a pagela anunciadora da emissão, diz-nos que, “A solidariedade social de uma comunidade que preze a qualidade de vida dos seus membros implica entre outras acções de dádiva de sangue benévola e voluntária”.
Diz o mesmo documento mais à frente que “Por ser insubstituível, (o sangue) pois só o organismo humano sabe fabricá-lo, e por não se conservar durante muito tempo, necessitamos de dadores todos os dias, para que o êxito do tratamento dos doentes, dos nossos amigos ou familiares não fiquem em causa.
Um bom coração e uma gota de sangue valem muito. Ajude os outros, dê sangue”.
Num dos discursos o Papa João Paulo II disse que “o mundo é como um organismo vivo e cada um tem qualquer coisa a receber dos outros e qualquer coisa para lhes dar”.
Os Correios de Macau e os outros atrás referenciados foram solidários deram o que puderam dar – e foi muito.
Aqui fica o nosso apelo aos Correios de Portugal para que “dêem” aos portugueses, num futuro próximo, a possibilidade de usar nas suas correspondências selos de apelo à dádiva, benévola e anónima, de sangue.
Artigo publicado no n.º 3 (Março de 2004), da Revista "Homenagem ao Dador de Sangue", da Federação das Associações de Dadores de Sangue FAS - PORTUGAL
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